Por Ricardo Brito Fotos MagicPaula.com.br
Você reconhece o rosto desta garotinha acima? Ai vai uma dica: seu nome é Maria Paula Gonçalves Silva e nasceu na cidade de Osvaldo Cruz/SP. Outra dica; a sua paixão pelo basquete a fez treinar desde cedo, com isso, aos 12 anos de idade defendeu o Assis Tênis Clube em Assis/SP, e logo conquistou o mundo.
E se a chamarmos de “Magic Paula”?
Agora ficou fácil, né?
Sua história é repleta de inúmeros títulos nacionais e internacionais, de medalhas em Panamericanos, Jogos Olímpicos e Mundiais e ainda de seu trabalho como gestora esportiva, secretária de esportes, fundadora de ONG, entre outros. Confira um pouco mais desse talento na reportagem que nosso colaborador Ricardo Brito elaborou junto à assessoria da jogadora.
RB: Como você define a sua passagem pela cidade de Assis? Tem alguma lembrança bacana desta época, das pessoas daqui?
PAULA: Eu era muito pequena quando cheguei a Assis, com apenas 12 anos de idade, para jogar e estudar. O esporte na minha vida era pura brincadeira e não entendia porque tinha que estar longe da minha casa, dos amigos e da minha escola para brincar. Muita coisa boa aconteceu neste período e eu fui acolhida com todo carinho e amor. Fui viver na casa do Mirinho e Dona Coraly e suas filhas Thelma e Judimary. Durante os finais de semana eu costumava passar na casa dos pais das meninas que jogavam comigo, afinal era uma criança. Giselda Durigan, Maria Luiza, Rita, Fernanda, Margareth, Cleo… Era muita saudade da minha família. Fiquei pouco tempo, pois o time acabou e eu tive que ir para outra equipe.
RB: Como foi jogar ao lado de Hortência em Campinas e na seleção brasileira? E como foi ter quer encará-la também como adversária nas quadras?
PAULA: A rivalidade com Hortência foi importante para o basquete e para nosso crescimento como atletas. Por algum tempo esta rivalidade atrapalhou nosso desempenho internacional, já que não conseguíamos chegar na seleção. Enfim, descobrimos que esta guerra interna entre as equipes e cidades que jogávamos não era saudável. Felizmente entendemos que juntas éramos mais fortes e que poderíamos ter também com esta liderança um time mais confiante. Jogar com ela em Campinas, na Ponte, foi muito fácil. Ganhamos tudo, mas esta união não fez bem para o basquete e se tornou desmotivante. Resolvi então voltar para Piracicaba e com isso tivemos a volta dos grandes jogos.
RB: Qual(is) seu(s) ídolo(s) que a inspiram aqui no Brasil e fora? Como foi ter recebido um apelido em homenagem ao jogador Magic Johnson?
PAULA: Ter o apelido do Magic é uma honra. Fico bastante confortável pois este apelido não foi opção minha e sim do jornalista Juarez Araújo, da antiga Gazeta Esportiva. Ficou super simpático, mas não é unanimidade, alguns acham muito americanizado. Eu adoro! Meu primeiro ídolo foi bem marcante, o Frico, um jogador de Oswaldo Cruz. Eu gostava de chegar em casa e imitar o seu estilo de jogo. Meus ídolos hoje são mais pela postura do que pela performance. Ayrton Senna é uma grande inspiração.
RB: O basquete de Assis/SP teve seus altos e baixos e apesar da paixão da cidade pelo esporte, o pouco incentivo financeiro dificulta um planejamento a médio e longo prazo. Esse é um problema não só local, porém nacional. O que acha que deve ser feito?
PAULA: Fico triste quando penso a força que era o basquete de Assis e o legado que poderia ter ficado. Tinha tudo para ter um basquete feminino forte. Precisamos entender que o custo na montagem de um time deve ser com os pés no chão, senão não se sustenta. Infelizmente o naipe feminino perdeu demais sua força e quando pensamos em basquete logo vem o time de ponta e de alto custo. Ninguém quer fazer um trabalho de formação, de descoberta de talentos e projetar um trabalho a longo prazo, iniciando um trabalho com uma equipe modesta para depois crescer. Estes projetos caros não se sustentam.
RB: Você parou de jogar, voltou e tempos depois se aposentou definitivamente. Como foi este processo? O que sente mais falta?
PAULA: Este é um processo complicado e deve ser bem digerido. Ainda não temos um programa forte no país para o destreinamento e a aposentadoria dos atletas. Para mim foi pura intuição, busquei ajuda na terapia e foi fundamental para não sofrer com um ciclo que muitas vezes fica pela metade, pois você sai do esporte e ele não sai de você. Lido com muita tranquilidade com este processo e já estou 15 anos longe das quadras. Sinto falta da convivência com a equipe.
RB: O Instituto Passe de Mágica é literalmente a sua maior assistência?
PAULA: O Instituto Passe de Mágica nasceu da paixão e vontade de fazer algo pelo esporte que me deu tanto. Antes de deixar as quadras comecei a pensar e a me questionar o que o esporte agregou à minha vida além de jogar 22 anos pela seleção, conhecer o mundo e viver profissionalmente dele? Ele me tatuou valores logo cedo: respeito à hierarquia, a seguir regras, ter espírito de equipe, conviver com as nuances de perder e ganhar… O Instituto nasceu com a vontade de que todos pudessem participar, sem pensar “só quem é bom fica”. São 11 anos trabalhando em áreas de vulnerabilidade social, com sete núcleos e 800 crianças atendidas nas cidades de Piracicaba, Diadema e São Paulo.’
RB: Tem algum sonho não realizado? Alguma conquista que almeja.
PAULA: Quem não sonha, não vive. Meu pensamento é sempre fazer o melhor para o outro e executar bem feito. Respeitar sua intuição para que os seus sonhos, com muito trabalho, se tornam realidade.
Viver um dia de cada vez!
FIM DE CARREIRA
Em 2000 encerrou definitivamente sua carreira, após 28 anos na ativa. Em 2006, Paula passou a integrar o Hall da Fama do Basquete Feminino em Knoxville, nos EUA e em 2013 foi homenageada com o Hall da Fama da FIBA, no Brasil.