Por Julio Maria
É essa cratera aberta pela contramão do tempo que o DJ Michel Nath quer ocupar. Sua ambição é grande e já está em construção: ele está na reta final para ligar as máquinas de sua fábrica de LPs Brasil Vinil. Pelos seus cálculos, deve ultrapassar a capacidade de produção da Polysom, a única na América do Sul.
A Brasil Vinil vai funcionar em um galpão na Barra Funda e, segundo Nath, deve entregar por mês, quando todas as prensas estiverem a mil (algo esperado para o fim de 2016), 150 mil discos. A abertura está prevista para entre abril e julho.
Além de cuidar da memória impressa em LP, Nath pensa também na importância de se registrar nessa mídia a produção atual. “Não só lançar as raridades é importante, mas também publicar essa cena rica de hoje na música brasileira.”
Ele diz que não precisa ir muito longe na história para detectar a carência de títulos no mercado do vinil. “Veja o disco Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs. Estamos falando do grupo mais popular de rap no País. Quando você acha esse LP, paga por ele R$ 600 em uma galeria de São Paulo. O disco tem de parar de ser esse fetiche que se tornou nos últimos tempos.”
O preço final das reedições ainda é um problema. “Depois que sair da minha mão, não tem jeito.” Os impostos pesam e os álbuns chegam às lojas sempre mais caros do que deveriam. “Só espero que o governo, se não puder me ajudar (não oferecendo incentivos fiscais), não me atrapalhe.”
João Araújo, dono da Polysom, não fala como um concorrente: “Já os visitamos (Nath e seu sócio, Luiz Bueno) e os recebemos na fábrica. Colaboramos com as informações que tínhamos e esperamos ter sido úteis”. Ele acredita que as gravadoras, suas maiores clientes para recolocar títulos no mercado, sabem bem o que fazem. “As pessoas que dirigem as empresas detentoras de catálogos têm plena capacidade para detectar o momento certo de entrarem no mercado de vinil.”