Lucas Carvalho Leme, 34 anos, construiu seu caminho na preparação física e chegou à Chapecoense em 2017.
Um dos momentos mais trágicos de 2016 foi o acidente de avião que o time da Chapecoense sofreu, no final de Novembro. A tragédia chocou o mundo e comoveu a todos de uma maneira devastadora. Agora, para 2017, o time está todo reestruturado e praticamente começando do zero. Equipe técnica, jogadores e administração. Todos empenhados para reconstruir o time que conquistou o coração de todos.
A Estilo Saúde conversou com Lucas Carvalho Leme, novo preparador físico do time de Chapecó para 2017. Assisense, formado em Londrina com mestrado em Fisiologia do Exercício e Treinamento Esportivo, Lucas entrou para o mundo do esporte em 2006, chegando ao futebol em 2012. Confira:
ES: Como surgiu a oportunidade de trabalhar com a Chapecoense e como você reagiu, devido aos acontecimentos do ano passado? O trabalho fica mais difícil pelo fato do time estar se reconstruindo?
LUCAS: O contato para vir trabalhar em Chapecó surgiu do conhecimento do meu trabalho pelos diretores daqui. Ganhamos muito títulos no Londrina, desde de 2012. Mas principalmente pela minha proximidade com o Marquinhos, o Marcos Antônio, que era preparador físico da Seleção Brasileira. Ele estava no Bahia, e foi para o Chapecoense para ser preparador físico. Ele solicitou um auxiliar, que trabalhasse na mesma linha dele. Aí a direção fez a proposta e eu aceitei vir pra cá, graças ao convite dele.
Em relação a tudo o que aconteceu ano passado, é o que a gente sempre conversa aqui. Nós temos que ter muito respeito, fazer tudo da melhor forma possível pelos que se foram. Não viemos para substituir ninguém, eles sempre serão lembrados. Nossa missão agora é reestruturar a Chapecoense e fazer ela voltar a ser um clube vitorioso. Essa é a responsabilidade que nós temos: ser vitoriosos como eles eram.
Com relação ao trabalho ser mais puxado, toda pré-temporada é intensa. Na visão que nós temos de preparação, isso não envolve só a parte física. O atleta é um ser multifacetado; isso envolve parte física, técnica, tática e psicológica também. Então são muitas variáveis à se controlar. E como são 28 atletas novos, tem que ter muito trabalho para ter entrosamento. A preparação física tem que estar aliada à parte técnica e tática. Não diria que é mais puxado, mas exige muito conhecimento e principalmente dedicação da comissão técnica nos treinos.
“Essa é a responsabilidade que nós temos: ser vitoriosos como eles eram.”
ES: Como foi o primeiro jogo do ano após o acidente, contra o Palmeiras? Emocionante, no mínimo?
LUCAS: Foi como você disse, foi muito emocionante. Não só pelas homenagens, mas por toda a carga emocional que o momento teve. Primeiro jogo depois de tudo o que aconteceu, tudo muito recente ainda. Foi um jogo importante para poder fazer mais homenagens aos que se foram. Eu diria que foi algo diferente, vir para um clube onde, em uma tragédia, praticamente todos se foram. É algo que você nunca imagina passar. É uma experiência enriquecedora no dia-a-dia, com os funcionários que ficaram, as conversas. A gente sempre tenta fazer o melhor em memória dos que se foram e também pelos que ficaram, que perderam seus amigos. Esse jogo teve toda essa carga emocional, por ser o primeiro jogo depois da tragédia.
ES: O time disputará a Libertadores esse ano. A pressão é maior? Como será a preparação da equipe?
LUCAS: A Libertadores é algo inédito para o clube. Envolve uma responsabilidade muito grande. Não diria uma pressão, mas temos uma responsabilidade nas mãos para fazer algo bonito. Em termos de preparação não envolve nada diferente, porque na verdade a nossa preparação tem sido extremamente focada e feita com muitos detalhes, porque jogaremos muitos campeonatos esse ano. Primeira Liga Catarinense, Libertadores, Recopa Sul-Americana, Brasileirão; ao todo serão 7 campeonatos. A preparação é voltada para que o time suporte jogar todos esses campeonatos, não só a Libertadores. É claro que é uma competição que tem um glamour muito grande, então precisamos ter um bom comportamento nesse campeonato. Temos focado em ter um bom desempenho para a imagem da Chapecoense.
ES: Quais as suas expectativas para o ano de 2017, trabalhando na Chapecoense?
LUCAS: Eu acho que a expectativa para 2017 é a melhor possível. Estamos com uma dedicação diária, não só no treino. Temos reuniões para discutir o treinamento, planejando treinamentos de qualidade. Tem sido um trabalho muito intenso aqui, não temos tempo para descansar. Nós sabemos o desafio que temos. Na maioria dos clubes, se contrata 4 ou 5 jogadores. A Chapecoense contratou 25. Você pensa na responsabilidade que é e o quão difícil é preparar todos esses atletas. Nós sabemos do desafio e estamos felizes de sermos lembrados para assumí-lo. Se fomos lembrados é porque temos qualidade e potencial para isso. É algo inédito que podemos fazer aqui no Brasil, reconstruir toda uma equipe e ir bem nos campeonatos, mesmo com todas as dificuldades. A expectativa é essa. Fazer algo muito bonito e inédito. Temos sido muito bem recebidos na cidade; ela nos acolhe. É uma cidade que abraça o clube, sempre muito humana. Eu acho que a gente vai fazer algo muito legal aqui, muito bonito. Não é só importante para nós, profissionalmente, mas também para a cidade. Temos a responsabilidade de, em qualquer atitude nossa, pensar “e os que estavam aqui, que atitude tomariam?”. Mas também chegou a hora de olhar pra frente. Como eu já disse, ninguém veio aqui para substituir ninguém. Nós queremos colocar a Chapecoense de volta no caminho das vitórias, no caminho das alegrias. Sabemos que vamos ter momentos difíceis, mas vamos sempre lembrar dos que estavam aqui e se foram. Nossa expectativa é fazer um ano muito bonito aqui.